No meio fio da calçada, por pouco dentro do bueiro, uma carta. Estranho, no envelope o remetente assina como Sofia; sem endereço e nem CEP; o destinatário chama-se Lucius D'avila, o endereço é conhecido, de repente a curiosidade foi tamanha que abri.
Nas primeiras linhas as preocupações de Sofia, talvez seja apenas um pseudônimo, não importa, ela desabafa sua dor de estar distante do seu homem; muito tempo que não se falam, ainda assim, a vontade de estar junto a ele é enorme. Ela o descreve com singeleza e amor, diz tudo o que sente, e o que chama atenção é a diferença entre os dois. Percebe-se nas descrições o quanto ele é direto, incisivo e com um instinto selvagem ao amar, ela se derrete com isso, num trecho fica evidenciado; "[...] Quando você me toma pela cintura e poe meu corpo colado ao seu fico sem ação, queria poder dizer não, mas sua sedução é convincente de mais, sei que irá me amar com a paixão como de um casa nova... Sussurro pedidos de socorro, quero ter o controle, mas você, detentor da arte de amar me conduz como numa dança complexa [...]". Neste momento pude imaginar a cena, isso me fez sentir arrepios! Ela continua: "[...] todos os dias te espero à frente da Floricultura Taj Mahal na esperança de poder vê-lo, mesmo que a distância, isso acalmaria meu coração... Sei que erramos ao nos entregarmos a um amor proibido, você havia me alertado, tinha medo de nos apaixonar, que tolice a minha em achar que você exagerava, olha como estau agora... Sinto raiva de mim, talvez se conseguisse disfarçar o que sinto estaríamos juntos. Não, não, não, a quem quero enganar? Nós nos amamos! Você se declarou, ah quando me lembro da sua voz rouca dizendo "Eu te amo", que é louco por mim, minha fé aumenta [...]"
Ela diz viverem um amor proibido, mas na verdade é profano, sendo os dois casados e ainda assim atribuir a fé por essa paixão é coisa de insanos. Perturbo a cabeça com pensamentos do que ser certo ou errado, virtude e pecado; essa paixão tão clichê de cinemas, vividos por meros mortais. Onde estive que jamais vivera tamanha sensação? Sigo em frente, atravesso a rua e avisto a tal Floricultura; sinto minhas pernas estremecerem, mais parece uma vertigem, mal consigo chegar a um Café. Depois de alguns minutos recupero os sentidos, peço uma bebida e sigo viajando no imaginário daquela carta "[...] Lucius suas mãos grandes, fortes e firmes a me acariciar, enquanto sua boca carnuda me dizendo safadezas ao tempo que me beijas, e seu corpo robusto a me espremer, arranca de mim coragem de viver tudo, sem preconceito, medos e vergonha eu me dôo a você. Solto meus cabelos para que se enrosquem neles, me viro do avesso para te ter [...]" Neste momento consigo imaginar o homem que arrebatou Sofia de paixão, senti uma inveja, vontade de ser eu ela, e que a mesma fosse eu... Ao fim da carta ela confirma querer continuar esse amor clandestino, sem isso era como viver estando morta, tudo agora é cinza, nada tem sabor, os perfumes não surpreendem, e pior, não vê mias beleza em si mesma, portanto, espera ansiosa por uma resposta, e tem que ser até hoje às 18 horas. Olho o relógio da torre da igreja eis que marca 17:45, sem pensar em nada corro até a Floricultura e avisto uma linda mulher, corpo cheio de curvas, sinuoso para um homem sem experiências, cabelos em trança, roupas bem discreta, da para se ver que é uma senhora requintada. Logo passa-se das 18 horas, ela triste vira-se devagar e vai embora, eu fico ali, penalizada por sua dor sinto uma lagrima que cai, num gesto infantil esfrego meus olhos na intenção de fingir ter sido um cisco, quando me viro para seguir caminho na minha triste e velha rotina, trombo num homem derrubando tudo que ele carregava nas mãos. Imediatamente me agacho para ajuda-lo a recolher seus pertences qual é meu espanto, era ele, Lucius, disse bem baixinho, logo ele pergunta o que havia dito, disfarço que era um pedido de desculpa, não demorou nada começamos conversar:
_Meu nome é Lucius, e o seu?
_Ângela... Quase minha voz não saiu. Só conseguia me ver vivendo as fantasias de Sofia, não da forma dela, mas dos desejos da minha.
Logo marcamos um café, percebi que seus olhos buscavam minha intimidade, fui esperta, indiquei outro lugar mais fácil para nos encontrarmos, não podia correr o risco de cruzar com sua amante amada, agora seria eu seu troféu. Nos despedimos, voltei para meu caminho, estando próximo onde encontrei a carta fiz o que o destino queria ter feito, joguei-a dentro do bueiro.
Desfragmento Papiro séc. XXI n. 13
(Beatriz CC Galvão)
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